domingo, 10 de abril de 2011

Pintura de História Contemporânea.


Jean Baptiste Debret



Formação: Prática de Pintura Histórica.

  • Consolida-se como artista no ambiente pré-revolucionário e mesmo depois da revolução manteve-se ligado ao circuito oficial das artes, participando ativamente dos salões organizados pela Academia.

  • O ano de 1806 marca a entrada de Debret no circuito das representações voltadas à glória de Napoleão.

  • Chega ao Rio de Janeiro em 1816, acompanhado de outros artistas e alguns artífices franceses, numa expedição pitoresca para colaborar para a modificação das precárias condições em que sem encontrava a maior colônia e agora sede do Império Português. Esperava-se que introduzisse no país o gosto pelas belas-artes de inspiração européia.

  • Publica em três volumes sua obra “Viagem pitoresca e histórica ao Brasil” entre 1834 e 1839.

  • Vistos como um exemplar de composição histórica, refletindo a prática artística e o envolvimento político de um artista que se dizia historiador fiel das coisas passadas no Brasil entre 1816 e 1831.

  • No período em que esteve no Brasil, foi pintor oficial da monarquia.

  • Debret tinha consciência no sentido de estar inserido no processo de construção da História brasileira, a partir do exército de sua prática artística. Os trabalhos que executou no Brasil, bem como o plano geral da Viagem pitoresca e histórica ao Brasil refletem o contato direto com a realidade, a preocupação com a sustentação documental e a existência de um projeto que justificava suas composições históricas.

  • A crítica posterior ao seu tempo, ressaltou o caráter “acanhado” da produção histórica de Debret no Brasil, exatamente no momento em que a construção Histórica do país atravessava o final do domínio colonial e registrava o nascimento do país como corpo político autônomo – distancia entre os grandes quadros napoleônicos e a contida produção brasileira.

  • Realidade como ponto de partida, bem como a reflexão e a consciência de alcançar o geral contido no particular, são preocupações que acompanharam a longa atividade de Debret no Brasil.

  • “Viagem pitoresca” elabora uma versão especifica da História do país. Começou a organizar a sua obra em 1832.

  • O artista entendia estar elaborando uma biografia nacional do Brasil: da infância a maturidade.

  • Leitura indígena: retrata-o primeiramente em seu estado mais primitivo; aos poucos vai introduzindo aqueles que, em contato com os estrangeiros, vão se aculturando e assumindo feições cada vez mais civilizadas. Debret descreve no final do volume, a capacidade do índio de extrair e utilizar os bens que a natureza lhe oferece, demonstrando que, apesar da dificuldade imposta pelas matas selvagens, é capaz de submetê-las às suas necessidades.

  • Aos pintores de História, era exigida a capacidade de referenciar, em seus trabalhos, obras e artistas consagrados pela tradição pictórica.

  • Debret – suas referências condicionam a imagem que apresenta do índio: tradição iconográfica da partida dos soldados romanos e da fuga de Maria e José para o Egito (Quadros: Chefe Gualcuru e Tribo Gualcuru em busca de novas passagens).

  • O contato de Debret com os índios foi muito reduzido, o que implicaria afirmar que grande parte das informações apresentadas nesse volume não tem origem em sua própria experiência, mas nas fontes documentais disponíveis e nos depoimentos de alunos ou colegas artistas e viajantes – freqüência de montagem de temas (Exemplos: Sinal de combate e de retirada – episódio do ano de 1827).

  • Nas últimas pranchas do volume dedicado aos índios que Debret dá forma à imagem que desejava imprimir à figura: Convencidos da superioridade dos europeus, os mais civilizados (...) acabavam se rendendo à vida nas cidades e aos serviços prestados em favor da ordem imposta pelo governo – capacidade de adaptação.

  • No segundo volume: “detalhes mais raros e quase ignorados da atividade do povo civilizado do Brasil, sujeito ao jugo português”. Dando continuidade ao plano de seguir a marcha progressiva da civilização no Brasil.

  • As imagens desse segundo volume recuperam hábitos e costumes protagonizados pela população negra.

  • A fidelidade do registro de Debret encontra lugar, sobretudo na compreensão atenta da realidade particular do Brasil – A nação que vira nascer devia grande parte da vitória ao negro – maioria dos costumes, das atitudes, dos hábitos e das atividades representadas nas litografias.

  • Credibilidade: Além de ser testemunha ocular do processo de transformação ocorrido no país desde o momento de sua chegada, esteve investido da responsabilidade de pintor de História. Orquestra imagens e textos de forma a construir uma determinada leitura da História do País.

  • No terceiro volume, reúne as imagens mais comumente reconhecidas como sua produção histórica: o registro dos grandes eventos e acontecimentos políticos, bem como dos hábitos relacionados à família real e seus colaboradores mais diretos.

  • As imagens dedicadas à política dão forma visual aos episódios ligados à família real, remetendo ao exercício do poder em uma nação constitucional e organizada politicamente e que são descritos pelos textos que antecedem as explicações das pranchas – documentos de um estágio de civilização alcançado pelo Brasil.

  • Não se deve confundir, entretanto, a significação histórica dessas imagens ao serem criadas e desenvolvidas para a monarquia que as solicitara com o caráter do qual se revestem nos volumes de Viagem.

  • Brilho civilizado das festividades e celebrações da monarquia com o estado ainda muito pouco evoluído da população do país do quais os volumes anteriores dava provas incontestes. No terceiro volume, expressões de diferentes tipos de composição.

  • Fundamenta o momento final da trajetória histórica brasileira com uma série de textos e documentos, inseridos no início do terceiro volume, nos quais as cenas são descritas. As litografias que se encontram no terceiro volume são expressões de diferentes tipos de composição. Ele utiliza os membros da família real como modelos (Alta personagem brasileira beijando a mão do imperador, o qual conversa com um oficial de sua guarda).

  • Mostrou-se, ao longo dos três volumes, um fervoroso defensor do povo brasileiro e de suas potencialidades. Reconheceu a importância do particular de cada grupo que compunha a população do país e empenhou-se em afirmar o talento e a capacidade da nação brasileira para o progresso que já havia sido atingido pela civilização européia.

  • Formação artística e intelectual no meio francês das últimas décadas do século XVIII foi determinante para que pudesse pensar e aceitar as transformações inevitáveis que acompanham os grandes movimentos da humanidade.

  • Debret pegou seu pincel, e uniu-o a pena – provas de seu profundo envolvimento com o projeto monárquico de formação da nação brasileira.
 In: LIMA, Valéria Alves Esteves. A viagem de um pintor de História: Debret e sua obra.